Queria saber o que sentiria se a tua sensualidade
não me turvásse os sentidos e a razão...
Queria deixar de procurar no teu corpo
o desejo que não me pertence...
Queria saber o que sentiria se não procurásse
a mulher de lingerie, a tal dos anúncios ou dos filmes...
Queria sentir-te sem pronunciar em silêncio
as obscenidades que alimentam o prazer...
Queria ser capaz de te amar sem fantasiar
para além de ti, do teu corpo...
Queria ser capaz de te penetrar
sem ter que suportar o prazer formatado da palavra...
Queria ser-me em ti e sentir-te em mim
na inocência de uma descoberta...
Queria amar-te na plenitude
sem que os gestos fossem os passos sequenciais
de um manual de instruções...
Queria amar-te perdendo a consciência
na transcendência original...
Queria que o orgasmo não tivesse nome,
fosse algo inominado, mais que um objectivo...
Queria a continuidade...amar depois do amor...
permanecer...
Queria olhar e tocar o teu sexo e estar presente,
escapando aos devaneios da mente perversa,
deixando de imaginar a mulher da lingerie,
a tal, de pernas abertas e seios hirtos,
colocando os lábios e a lingua num crescendo
que me habita sem tréguas...
Queria que tudo não fosse apenas causa e efeito...
Queria morder-te os mamilos sem saber a razão,
movimentar o meu sexo dentro do teu numa cadência
sem registo prévio, sem memória...
Queria abraçar-te num beijo,
profundo, lento e eterno...
emocionar-me, arrepiar-me, esquecer tudo...
Queria que o Agora contivesse todas as
modalidades de tempo e espaço...
Queria sentir saudades do futuro...
...Queria amar-te e ser amado, justificando a vida,
sem ser escravo do acto compulsivo de te possuir...
Barão de Campos